Brad Cohen: uma vida verdadeiramente livre

Baseado em uma história verídica, o filme “O primeiro da classe” narra a vida de Brad Cohen, um professor norte-americano, que desde os seis anos de idade, é portador da Síndrome de Tourette. Também referida como síndrome de la Tourette, SGT ou ST, é uma desordem neurológica ou neuroquímica caracterizada por espasmos, movimentos repetitivos e vocalizações não desejadas. Na maioria dos casos, os sintomas aparecem entre os dois e quinze anos, sendo a prevalência maior entre os homens.

Desde a infância, Brad sofreu preconceito e ridicularizações por conta de seus sons e movimentos atípicos, provocados pela síndrome. Enquanto sua mãe e irmão o compreendiam e acolhiam, seu pai não suportava seus sintomas.

Na escola, além de ser humilhado pelos colegas, era constantemente repreendido e castigado pelos professores, pois era considerado um aluno indisciplinado.

Assim como os educadores, todos os profissionais de saúde procurados por Ellen Cohen, mãe de Brad, afirmavam que seu filho era rebelde e necessitava de mais disciplina. Exausta de procurar ajuda em vão, Ellen decide então pesquisar qual seria a possível patologia de Brad. Encontra, em um livro, a descrição da Tourette, identificando ser esta sua condição.

Conhecer o motivo de seus sintomas, possibilitou a Brad melhor compreendê-los e enfrentá-los. Este conhecimento também proporcionou uma melhor convivência no ambiente escolar.

Já em uma nova escola, durante uma apresentação, ele é chamado ao palco pelo diretor para falar sobre a síndrome. Neste momento, Brad explica aos colegas sobre a Tourette e pede para ser tratado com igualdade.

Apesar do diagnóstico ter lhe proporcionado melhor aceitação, Brad não deixou de sofrer preconceito por conta do transtorno. Agora adulto, graduado professor, ele começa uma incansável busca por uma oportunidade de atuar em sua área de formação.

Brad sonhava em ensinar, ser o professor que nunca teve e, após ser recusado por vinte e quatro escolas, é, enfim, contratado. Com a oportunidade, ele não apenas ensina aos seus alunos com o conteúdo curricular, mas com sua vida.

Ensina que uma condicionalidade, como a Síndrome de Tourette, pode tornar-se apenas um mero detalhe e não uma limitação. Ensina superação, determinação, respeito, empatia.

Diante de sua realidade, Brad poderia decidir se entregar, aceitar o prognóstico que queriam impor a ele. Acatar o pensamento de que ele era incapaz. Porém, escolhe agir livremente, mostrando que a síndrome não o limitava. Que a patologia não determinava quem ele era ou poderia ser.

Compreende que sua missão é ensinar e responde ao chamado da vida. Age com responsabilidade, posiciona-se no controle de sua vida e vai cumprir esse chamado, que só ele pode fazer.

Brad, em uma atitude autotranscendente, doa-se verdadeiramente a este propósito. Enfrenta as dificuldades, entrega-se por amor à sua vocação. Neste caminho, também encontra alguém que dá sentido à sua vida, Nancy, sua esposa.

E assim, saindo de si, vivendo para algo e alguém, Brad nos mostra, tal qual afirma Frankl, que o homem é “o ser que sempre decide o que ele é” (Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração, p. 112).